Perdas Do Setor De Turismo Na Síria Somam US$ 2,3 Trilhões

Estimativa foi apresentada pelo ministro do Turismo do País, Rami Radwan Martini, e inclui danos materiais, destruição de sítios históricos, desemprego e redução significativa de receitas

Os prejuízos causados pela guerra ao setor de turismo na Síria chegam a 500 trilhões de libras sírias (US$ 2,3 trilhões pelo câmbio oficial), disse nesta segunda-feira (02) o Ministro do Turismo do país, Rami Radwan Martini, em entrevista coletiva para jornalistas estrangeiros, em Damasco. Isto inclui perdas diretas, como destruição de hotéis, sítios históricos e religiosos, e outros danos materiais; e perdas indiretas, como empregos e faturamento do comércio e serviços.


“O turismo é uma atividade privada e envolve principalmente a classe média. Foram perdidos 258 mil empregos diretos e indiretos”, afirmou. Em 2010, antes do início da guerra em 2011, a Síria recebeu nove milhões de visitantes, segundo ele.

O Ministério do Turismo convidou jornalistas de diferentes países para visitar sítios históricos e religiosos que foram danificados durante os conflitos. Profissionais da Argentina, Cuba, Iraque, Omã, República Tcheca, além da ANBA, do Brasil, estiveram em diversas partes da Síria nos últimos dias.

De acordo com o ministro, 80% do território sírio foi liberado dos grupos armados que tomaram conta de boa parte do país nos últimos anos. Hoje os combates se concentram no Noroeste da Síria, principalmente na região de Idlib. “Idlib será logo liberada”, declarou ele. “Todos são bem-vindos aos lugares da Síria que foram liberados”, acrescentou.

Ele recomendou, porém, visitas feitas por meio de agências de viagens que cuidem de todos os procedimentos necessários para circular por um território sob intenso controle militar e com locais ainda com riscos significativos.


Patrimônio

O patrimônio histórico da Síria sofreu danos consideráveis. Segundo Martini, estima-se que de 24 mil a 42 mil artefatos arqueológicos tenham sido roubados. “Não são números precisos”, disse. Ele ressaltou, no entanto, que o governo, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Interpol e outras instituições atuam para recuperar parte do que foi perdido. “É um crime contra a humanidade”, destacou.

Os danos são bastante visíveis em sítios espalhados pelos país, como Palmira, que teve partes dinamitadas. “A Síria é um museu a céu aberto, em alguns lugares eles (os terroristas) trouxeram bulldozers e passaram desenterrando e destruindo os sítios”, contou. Nestes casos, segundo ele, será muito difícil recuperar. O ministro e muitos sírios se referem aos grupos armados que invadiram várias partes do país como “selvagens”. A Síria está repleta de monumentos que são considerados patrimônio da humanidade pela Unesco.


Investimentos

Antes de os conflitos estarem completamente terminados e sob sanções internacionais, o governo sírio quer atrair investimentos para reconstruir a infraestrutura do setor de turismo. “Acreditamos no potencial do povo sírio. Temos uma quantidade enorme de empresas que começam a construir”, afirmou Martini. “As sanções prejudicam o povo sírio, mas há alternativas e olhamos para frente”, ressaltou. “Alguns países nos apoiam, outros não”, acrescentou.

Segundo ele, muitas empresas estão atuando nas áreas de turismo e construção, e no restabelecimento de áreas comerciais. O ministro informou que será realizada em 07 de outubro uma conferência regional, em Damasco, para atrair investimentos para o setor de turismo. Serão apresentadas 73 opções de projetos que vão de US$ 2 milhões ou US$ 3 milhões a US$ 150 milhões. “São projetos de desenvolvimento sustentável”, observou.

Foram convidados mais de 100 empresários de países árabes, e de outras regiões. Ele afirmou que há interesse de investidores do Golfo e destacou conversas com empresas dos Emirados Árabes Unidos.

O ministro falou também da 61ª Feira Internacional de Damasco, que está em andamento na capital síria, e citou que, apesar das sanções, foram fechados, por exemplo, acordos entre companhias da Bielorrússia e da Síria para empreendimentos nas áreas de saúde, ensino superior e outras. “Há também pedidos de investimentos nos setores de turismo e material de construção”, comentou.

Ele acrescentou que há dez novos hotéis em construção em Alepo, maior cidade da Síria, que teve seu centro histórico gravemente afetado nos conflitos. O ministro é empresário do ramo hoteleiro e contou que um de seus estabelecimentos na cidade foi totalmente destruído.

Com estas iniciativas, o governo local traçou um plano para voltar a atrair nove milhões de visitantes por ano até 2030, começando com dois milhões em 2020.

Vale lembrar que a Síria não atrai somente turistas com sua comida, tão popular no Brasil, e com suas atrações históricas, é também local de peregrinação religiosa para muçulmanos e cristãos. Há interesse, por exemplo, na reabertura das fronteiras terrestres com o Iraque, de onde vêm muitos peregrinos.

Mesmo com as limitações, segundo o ministro, cerca de 180 mil iraquianos visitaram a Síria no ano passado, e com a reabertura da fronteira com a Jordânia, há um mês e meio, houve um fluxo recorde de visitantes.

Para fazer andar os projetos, a Síria espera receber investimentos de US$ 10 bilhões, sendo 90% do setor privado. São necessários 100 mil leitos em todas a categorias de hotéis, aportes significativos no aumento da capacidade de estabelecimentos para receber turistas, como restaurante, e espera-se a criação de 110 mil empregos.

Martini acrescentou que cerca de 500 projetos em construção foram interrompidos, danificados ou destruídos durante a guerra.


Vistos

O ministro falou ainda sobre as dificuldades e demora na concessão de vistos de entrada na Síria. “Desculpem se temos algumas dificuldades nesta área, também temos necessidade de vistos para entrar em outros países, mas não temos reciprocidade, queremos que todos venham à Síria”, disse. “Nestes grupos havia 100 mil combatentes de 80 países, estrangeiros de nações aliadas ou não”, afirmou ele, para justificar preocupação com o controle da entrada de pessoas no país.